AS PLACAS DE MARFIM DE SAULOT

Em Eras por vir, meus irmãos, se vocês me julgam duramente, então penso sobre isso e sei porque eu faço o que faço. Não me culpe. Depositem seus ódios sobre Caim, o mentiroso, sobre Caim, o traidor, que chama a si mesmo de nosso Pai, mas que é verdadeiramente nosso atormentador.

Nosso Pai nos contou que ele foi o primeiro, um ser único amaldiçoado pelo próprio Deus como punição para o assassinato de Abel. Nós acreditamos. Porque não? Somos seus filhos e filhos de seus filhos, cada um de nós criado para prover nossos senhores com amor e companhia. Eu mesmo fiz crias, aqueles que eu senti merecedores de longa vida, aqueles que amei enormemente.

Ele me chamou Zao-lat, o amado, e por eras eu o adorei. De todas suas amadas crianças, somente eu falei verdadeiramente para o coração de Caim, assim eu pensei. Dotado para prever o futuro, eu falei profecias para todos os meus irmãos, anciãos e mais jovens.

Pensei muito sobre nossa condição. Devemos consumir o sangue dos vivos para permanecer sobre a Terra até que Deus nos chame para sermos julgados junto com o Primeiro. Minha mente e mão foram voltadas para ações que ajudassem a todos, seja de nosso povo ou mortal, porque não éramos todos irmãos de um mesmo tipo? Ainda minha busca por paz dentro de meu próprio coração me levou pra longe de nossa casa. Eu viajei para a terra chamada Reino Médio.

Ali descobri outros. O Primeiro mentiu. Ele não era o primeiro, meramente um entre muitos punidos por seus pecados. Ele ainda é diferente destes. As crianças mortas-vivas do Oriente não precisam beber sangue. Eles estão além da necessidade por sangue e alimentam sobre o chi, as energias da vida e da morte do mundo. Aqueles que não podem elevar-se para este estado superior, mas permanecem dependentes sobre sangue e carne para sustento são considerados seres inferiores, indignos e párias onde quer que eles são tolerados a viver.

Tudo que Caim nos contou é uma mentira. Ele também viajou para esta terra, ainda nunca superou sua sede de sangue. Pior, ao invés disso deixou cada um de nós fazer seus próprios destinos, então ser punido ou recompensado por Deus, ele tomou isso pra si para parar nosso ciclo natural de vida e forçou seu sangue sobre nós para que pudéssemos nos tornar como ele é. Ele tem amaldiçoado a todos nós para consumir sangue ao invés de nos dar a chance de ascender à um estado de existência superior. Nós temos sido forçados a aceitar um estado inferior de existência por ele que nos fez. Pode Caim ser amaldiçoado a sofrer tormento eterno no abraço das chamas vivas pela existência que ele tem nos condenado também.

Embora eles tivessem grande piedade de mim em minha condição, alguns dos iluminados do Oriente ensinaram-me o que eles podiam, tentando acalmar a traição de meu coração. Acredito que eles esperavam trazer-me para um estado de paz e aceitação de minha própria existência. Eu fingi que eles faziam assim, por dentro, meus pensamentos eram nublados com ódio e meu coração queimado com vingança. Mas eu descobri a grande revelação do mundo. Eu podia jogar fora o estigma de ser inferior tornando mestre de tudo numa outra Era.

Eu aprendi das Cortes Celestiais e Infernais e sua luta conta cada outra, que equilibra o mundo. Outros satisfeitos para comigo, mas muito mais avançados, ensinaram-me da virada da Grande Roda das Eras. Nós movemos inexoravelmente de uma era mais brilhante para uma mais brutal e sombria até que nós alcançamos o meio termo da roda. Esta é a parte de baixo do círculo, nós mergulhamos em trevas e horrores por milhares de anos, governados por um cruel general poderoso ou feiticeiro cuja vontade decidiu o destino de todos. Nesse ponto, o mundo pode parar, a roda forçada deste caminho e presa nessa Era até o fim dos tempos. Ou, se seres de bondade puderem acalmar a severidade das trevas ou encontrar um meio de superar isso, na hora da Grande Roda girar uma vez mais, subindo novamente através de eras mais iluminadas até alcançar o paraíso no topo de novo.

Aqueles que se orgulham em sua iluminação tomam lugar em trazer a virada da roda, eles ainda não fazem planos além desta Era. Eu não cometo este engano. Se eu sou amaldiçoado, então me deixem ser grande em minha depravação. Eu devo ganhar tudo que eu posso pra mim. Eu devo ajudar a mover a Grande Roda para o colapso e devo golpear aquele triste reino com um punho de ferro e chicotes de fogo. Não mais devo me importar com o que meu pai ou meus irmãos quer. Devo ser secreto em meus planos e circunspeto em meus relacionamentos com todos. Mas eles não devem suspeitar dos movimentos de minhas mãos. Deixe-os disputar entre si mesmos e competir por posições. Deixe-os acreditar que eles lutam para alcançar ascendência. No fim, quando a roda girar e as trevas cobrirem tudo, eu devo sentar no trono do destino mais forte que eles, mais forte do que Caim, mais forte do que ela que nos deu seus poderes – talvez até mesmo mais forte que o Deus que originalmente amaldiçoou o Primeiro.

Então eu devo governar e se for que a roda deva girar novamente, eu devo transformar-me novamente e guiá-la de volta ao topo de novo. Eu devo ter minha vingança pela maldição impensada de Caim, que ele pôs sobre mim. Porque uma coisa eu sei que os outros não consideram: A Roda das Eras alcançaria o topo uma vez mais, mesmo nesta aparente perfeição, eu devo durar como uma mancha sobre areia pura.

A roda deve girar uma noite novamente.